Os alquimistas estão chegando
Pense num alquimista subitamente catapultado para dentro das engrenagens do século 21. Para além da tecnologia de ponta, cada vez mais próxima, percorrendo nossas mãos e cabeças e casas e ruas, o alquimista se depararia também com uma série de apetrechos e maquinarias miúdas. Dissecaria pobres florzinhas de plástico para entender porque elas não param de dançar para lá e para cá. Surpreenderia-se com o fato de que certas superfícies escuras (“são fotossensíveis”, diríamos-lhe) podem fazer com que uma fonte de luz, em tese, jamais se esgote.
Há alguma coisa nas obras de Jonas Esteves que é reminiscência dessas práticas antigas, desses saberes que se guiam por uma mirada carregada de curiosidade para com as coisas do mundo. Os alquimistas, com a ascensão do cientificismo e dos valores iluministas, foram escanteados no nosso imaginário como caricaturas informes dos verdadeiros cientistas. Mas permaneceram também como representantes de um saber alheio ao rigor tecnocrata que, muitas vezes, guia a ciência moderna.
Em um dos seus trabalhos mais recentes, Jonas Esteves constrói uma interlocução entre um saber emprestado de práticas antigas hinduístas e experimentos botânicos. Em O que nos move, sete cores, sete mantras sete brotos de feijão em sete vidros (e um emaranhado de fios elétricos) formam uma meia lua no chão. Cada vaso com terra recebia, em intervalos regulares, emissões de luz e som relacionadas a sete chacras diferentes. A ideia era saber até que ponto as plantas regiam às diferentes energias que recebiam. A galeria se tornava, assim, uma espécie de laboratório extra-científico, onde o artista-alquimista auferia dados e testava hipóteses.
Os resultados, colhidos ao fim da exposição, são bem interessantes. Segundo o artista, “uma coisa que a gente pode ver é do primeiro e do sétimo chakra. No primeiro chakra, mais ligado à raiz, a planta desenvolveu raízes profundas. Demorou um pouco mais para crescer se comparada com as outras, porém ela cresceu forte e bem ‘ereta’. Agora o chakra da coroa, o sétimo chakra, ele cresceu e, ao final dos 15 dias, ela era uma planta que realmente tinha uma ‘coroa’ ela se abria mais que as demais.”
Queria concluir revirando um verbo já velho do nosso léxico, mas que define bem a prática artística de Jonas Esteves. Escarafunchar. No dicionário, o primeiro sentido é de “investigar ou examinar de forma minuciosa e persistente”. O segundo é de “remexer, em geral, à procura de alguma coisa”. Jonas escarafuncha as coisas do mundo. Desde jovens feijões iluminados por energias antigas até os maquinários que povoam nosso cotidiano. Os alquimistas já chegaram.